domingo, 1 de março de 2009

Rei nú

INCORPORADOS Á PAISAGEM

Maria Lucia Victor Barbosa

A entrevista concedida pelo senador peemedebista, Jarbas Vasconcelos, à revista Veja de 18/02/2009, teve o efeito bombástico nos meios partidários do país, causando profundo incomodo não declarado, mas percebido.


O senador nada disse que já não tivesse sido dito, mas o espaço em que desferiu suas críticas, ou seja, uma revista nacional do porte da Veja, o peso de sua trajetória política e de sua importância dentro do PMDB, ajudaram a estrondosa repercussão de suas palavras, especialmente num momento em que não existem no Brasil, como venho sempre repetindo, partidos, instituições ou lideranças de oposição, exceto posturas isoladas como, por exemplo, a do senador paranaense, Álvaro Dias, o PSDB.

Foi justamente por conta da inexistência de oposições organizadas que residiu a importância das declarações de Jarbas Vasconcelos. Ele quebrou a mesmice da bajulação, da sujeição, do oportunismo, da politicagem reinante e ergueu sua voz que ressoou no silêncio conveniente dos áulicos frequentadores dos salões palacianos onde comanda qual gigantesco Leviatã, o Executivo.

O político pernambucano que foi duas vezes prefeito, duas vezes governador e no momento é senador, mostra-se desencantado a ponto de dizer que não tem mais nenhuma vontade de disputar cargos. O tempo dirá se isso vai prevalecer. Em todo caso, o desencanto do senador Jarbas Vasconcelos tem várias origens:

A primeira deriva de seu próprio partido, que ele diz ser hoje "um partido sem bandeiras, sem propostas, sem um norte, uma confederação de líderes regionais" e também, "uma máquina de clientelismo". Na verdade, uma característica de todos partidos brasileiros. Com exceção do PT, que apesar de suas inúmeras facções que costumam se digladiar, é centralizado e baixa normas e diretrizes como se fossem dogmas, inclusive, para seus ardorosos militantes.

Outra fonte de desencanto do senador Vasconcelos é claramente estampada na entrevista com relação ao PT, mais especificamente, com relação a Lula da Silva. E coisa a ressaltar: impressiona ser o senador o primeiro a dizer que o rei está nu.

Nunca, até agora, alguém tinha tentado desfazer a "blindagem" cuidadosamente construída pelo PT em torno daquele que é sua garantia de continuidade no poder. Nem o deputado Roberto Jefferson, que escancarando os porões fétidos do "mensalão" entrou para a história ao ordenar ao homem mais poderoso da República, José Dirceu, que deixasse rapidamente o cargo para não comprometer o chefe, no que foi prontamente obedecido, ousou acusar o presidente da República de qualquer falta, por menor que ela fosse. Pelo contrário, em sua visão Lula da Silva era um homem bom, inocente, que de nada sabia, e que chorou ao saber das travessuras dos seus "aloprados".

Já o senador Jarbas, foi claro ao dizer em vários trechos da entrevista: "Com o desenrolar do primeiro mandato, diante dos sucessivos escândalos, percebi que Lula não tinha nenhum compromisso com reformas ou com ética". "O mundo passou por uma fase áurea, de bonança, de desenvolvimento, e Lula não conseguiu tirar proveito disso". "Esperava-se que um operário ajudasse a mudar a política, com seu partido que era o guardião da ética. O PT denunciava todos os desvios, prometia ser diferente ao chegar ao poder. Quando deixou cair a máscara, abriu a porta para a corrupção".

O senador foi bastante claro ao dizer que "a corrupção sempre existiu, que não foi inventada pelo PT e por Lula", que está impregnada em todos os partidos, inclusive, no seu, mas, acrescentou, "é fato que o comportamento do governo contribuiu para essa banalização".

Vasconcelos não poupou críticas ao assistencialismo e ao marketing de Lula que mantêm sua popularidade e disse: "o Bolsa Família é o maior programa oficial de compra de votos do mundo". Sem dúvida, uma ofensa de lesa majestade, que deve ter soado insuportável para o PT que, de modo inusitado, não esboçou reação, assim como não reagiu o PMDB quando seu correligionário apontou de modo nada elogioso para figuras importantes de seu partido, tais como José Sarney e Renan Calheiros, sendo que se referiu a este como "o maior beneficiário deste quadro político de mediocridade em que os escândalos não incomodam mais e acabam se incorporando à paisagem".

Desencantado e frustrado se mostrou também Jarbas Vasconcelos por não conseguir dar no senado a contribuição que gostaria, na medida em que se tornou um dissidente de seu partido.

Mas, quantos brasileiros desencantados por se sentirem incapazes de alterar o quadro vigente de corrupção, de mediocridade, de populismo, sonham em resgatar valores que impeçam que os escândalos se incorporem à paisagem? Sem dúvida muitos, à espera de quem unifiquem sua insatisfação. Que outras vozes, além da do senador Jarbas Vasconcelos, se façam ouvir.

Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.
mlucia@sercomtel.com.br
Fonte: Por e-mail da autora
 
postado na íntegra de matéria do Dois em Cena
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